O Receio de Amar
[Inicio o post ao som de Roland Grapow - Under The Same Sun]
Olá, amigos e amigas do Renatadas, tudo bom ? Espero que sim.
Pôxa, vocês não acham que o título desse post parece o nome daquelas novelas de rádio dos anos 40, 50 ? Ou daquelas primeiras novelas de televisão que foram feitas aqui no Brasil ? Eu acho... hahahahahahaha... :-p
Mas não é sobre novelas antigas que eu tenho intenção de escrever hoje. É exatamente sobre aquilo que eu acredito ser um fenômeno muito característico das mais recentes gerações, ou seja, o medo de amar.
Por que algumas pessoas com quem eu tenho contato expressam sentir tamanho medo de amar ?
Será a questão da entrega ?
Delegar a outra pessoa o nosso coração e uma considerável parte de responsabilidade pela nossa felicidade me parece realmente difícil atualmente, época em que somos levados a ter cada vez menos fé na boa vontade das pessoas, especialmente se considerarmos a crise de valores que nossas sociedades têm vivido.
Mas será que temer essa parte do "Amar" é suficiente para, voluntariamente, procurarmos não amar ? Me parece que não...
Será, então, a questão do individualismo ?
Desde nossas tenras infâncias somos incentivados a estudarmos, crescermos e nos desenvolvermos para a feroz competição que enfrentaremos em nossa vida adulta.
Além disso, assistimos o tempo inteiro a uma série de pequenos e médios atos egoístas por parte das pessoas já adultas com as quais convivemos quando criança, incluindo nossos pais, pessoas essas que nos servem de espelho e de modelo.
Por outro lado, a face politicamente correta e, às vezes, até mesmo hipócrita, que assistimos nos meios de comunicação em massa, freqüentemente nos apresenta modelos e ideologias socialmente orientadas que, também comumente, tomamos como os maiores ídolos de nossa infância.
Entretanto, no caso de nossa geração, especificamente falando, os heróis que nos foram apresentados muitas vezes são pessoas que resolvem os problemas sozinhos. Vide o Batman, o Super-Homem, o He-Man, a Mulher-Maravilha, o Homem-Aranha, o Jaspion, o Ayrton Senna, o Gustavo Kuerten e, mais recentemente, a Daiane dos Santos, sem contar os inúmeros ídolos pop da música que nos últimos anos, via de regra, se apresentavam sozinhos, entre outros exemplos.
Agora, justiça seja feita, também fomos apresentados a diversos grupos de heróis em nossas infâncias e adolescências, haja vista os X-Men, os Changeman, os heróis daquele desenho Caverna do Dragão, os Thundercats, os Cavaleiros do Zodíaco, os grupos musicais, desde Bon Jovi, Guns n' Roses, Nirvana, Metallica, até o New Kids On The Block, as Spice Girls, os Backstreet Boys, e as bandas do Classic Rock, como os Beatles, o Deep Purple, o Black Sabath, o Led Zeppelin, o Rush, e as grandes equipes do esporte como o Dream Team de Basquete dos EUA, a Seleção Brasileira de Futebol de 1994 e a nossa Seleção de Voleyball, entre outros.
Outra coisa a considerar com relação ao individualismo, a meu ver, é que devido ao fato de as famílias terem diminuído, e ambos pais precisarem trabalhar para sustentar um bom padrão de vida para essa família, há menos interação pessoal dentro dos lares brasileiros.
E como se isso não bastasse, ainda há o seguinte fato: Menos irmãos, menos divisão, menos compartilhamento, a ponto de ser comum hoje em dia se encontrar famílias nas quais cada filho tem um quarto, uma escrivaninha, um computador, uma T.V., um DVD Player, um videogame, um aparelho de som, um armário completo, com todos os tipos de roupas, um grupo imenso de brinquedos e, não tão raro assim, seu próprio banheiro.
Com todos esses benefícios do individualismo, vem a habituação ao conforto que esses benefícios trazem, do qual é muito difícil abrir mão.
E, cá entre nós, se tem algo que considero como uma exigência do ato de amar é que nós estejamos dispostos a dividir o melhor e o pior que nós temos, e abrir mão de uma parte considerável dos confortos aos quais estamos acostumados.
Aliás, no que concerne a esse ato de compartilhar, vale ressaltar que eu não falo apenas de coisas materiais, mas de aspectos de nossas personalidades, objetivos de vida, sonhos, convicções, ideologias, visão de mundo, posturas religiosas, isto é, uma imensa parte daquilo que existe de mais idiossincrático em cada um de nós.
Mas será que só essas inconvenientes trazidos pela questão do individualismo e da perda da total liberdade podem ser acusados de apavorar as pessoas com relação ao "Amor" ? Novamente acho que não...
Será, então, a questão da facilidade que existe hoje em dia para as pessoas viverem momentos amorosos na atualidade, o que implica em uma drástica redução dos comprometimentos e dos compromissos ?
Porque, realmente, pensando com base em tudo que eu já coloquei acima, me parece muito coerente que se opte por um tipo de relacionamento como o "Ficar" que, em tese, traz alguns dos mais agradáveis benefícios de uma relação amorosa sem implicar na assunção de algumas das potenciais responsabilidades, como essas que eu coloquei acima, ou seja, você vai lá, escolhe uma pessoa, abraça, beija, às vezes até transa com ela e, no dia seguinte, é como se nada tivesse acontecido, o que leva à outra possível questão:
Será então a questão do hedonismo, essa incessante busca pelo prazer acima de tudo como parâmetro para a moral humana ?
Afinal, muitas vezes, com o perdão dos clichês, o ato de amar requer sangue, suor e lágrimas, e não costuma passar nem perto daquela clássica imagem do mar de rosas.
E quando acontece de esse sentimento ser tão intenso, repentino e sôfrego que chegamos à brilhante conclusão de que estamos não só amando, como também fazendo-o apaixonadamente ? E lá vamos nós nos preparar psicologicamente para, muitas e muitas vezes, agirmos como idiotas na presença da pessoa amada.
Ah, e não podemos esquecer a importantíssima questão do amor próprio, colocada em cheque pelo fato de que ainda é possível amarmos sem sermos correspondidos, ou ainda pior, podemos encarar uma imensa rejeição, fatos que via de regra nos impõe um violento sofrimento.
Uma outra coisa que não podemos deixar de citar são as expectativas da pessoa que ama e daquela que está amando, conforme já falei aqui no post "Eu, o Amor e o Tempo - Reflexões" (http://renatadas.blogspot.com/2007/08/eu-o-amor-e-o-tempo-reflexes.html).
É, caros amigos e caras amigas, realmente eu devo admitir... Há uma série de razões para que uma pessoa tenha receio de amar, muitas delas nem ao menos levantadas nesse cantinho do ciberespaço por esse que ora lhes escreve.
Entretanto contando com tudo o que eu já escrevi aqui e as reflexões que eu desenvolvia nesse processo autoral, ainda me resta uma enoooorme dúvida:
Será que mesmo todos esses motivos são suficientes para alguém sentir tamanho medo de amar que a pessoa acabe por se privar disso ?
Acredito eu que essa é uma resposta que cada um deve dar para si mesmo. E eu já tenho a minha, que é a seguinte:
Todos esses fatos são insuficientes para me fazer ter receio de amar, mas acho absolutamente possível e coerente que, por conta deles, alguém sinta esse temor, de uma tal forma que eu mesmo não vejo problema nenhum em uma pessoa se sentir assim afinal, acredito eu, cada um tem sua subjetividade e lida com ela da melhor maneira que consegue, não sendo esse fato algo que torna uma pessoa melhor ou pior.
Agora, considerando o outro lado da moeda, acho importante que sempre sejamos capaz de confrontar esses motivos com aqueles que, eventualmente, podem vir a fazer o "Amar" valer a pena.
Alguns exemplos desses motivos "pró-Amor" são os seguintes:
- Companheirismo:
Considero muito bom ter a convicção de que você pode contar com alguém quando surge a necessidade de ter alguém ao lado para um abraço, um beijo, um papo, um lanche, uma balada, uma tarde na praia, na montanha, na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapé, para passear, escutar, falar, cozinhar, lavar, limpar, nadar, correr, pular, banhar, brincar, rir, chorar, etc...
- Aceitação:
Me parece muito legal ter consciência que uma pessoa no mundo pode estar disposta a conhecer as mais específicas características de seu ser e não rir de você por causa delas mas, eventualmente rir com você, curtindo-as contigo.
- Aconchego:
Acho muito agradável poder aconchegar o próprio corpo ao corpo de outra pessoa e sentir o calor, a pele, o cheiro, o toque, o som da voz, a textura dos cabelos, o sabor da boca, e tudo o mais que um bom abraço é capaz de providenciar para duas pessoas que se amem.
- Aprendizado:
Creio ser muito interessante quando, por conviver com alguém que desperta e instiga o melhor que temos dentro de nós, crescemos, aprendemos e realizamos aquilo que, sem a presença, a fé e a motivação daquela pessoa tão amada, não teríamos despertado em nós e, conseqüentemente, não realizaríamos.
E finalmente, algo que de maneira nenhuma eu poderia deixar de citar:
- Sexualidade:
Que me desculpem os sexólatras, mas nesse ínterim, a meu ver, não tem jeito, apresento dois clichês nos quais acredito profundamente, ou seja, é muito melhor curtir nossa sexualidade na companhia de alguém do que sozinho, e ainda melhor se essa pessoa que nos acompanha for aquela pela qual nutrimos o tipo de sentimentos aqui apresentados.
Enfim, amigos e amigas, sei que é meio pretensioso isso que vou escrever aqui, mas espero que essa reflexão seja de alguma utilidade em suas próprias reflexões acerca de um tema tão controverso e subjetivamente entendido e vivenciado como é o Amor.
De qualquer maneira, desculpem minha atitude pretensiosa e a simplicidade que eu observo nessas linhas que ora exponho para sua apreciação.
Um grande beijo para as amáveis moças, um abraço, tudo de bom e felicidades a todos e todas que emprestam os calorosos ares de suas presenças à essa ilhota virtual em cuja orla vêm quebrar as ondas que surgem no mais profundo âmago oceânico de minha subjetividade.
Até mais.
De seu amigo,
Renato F.C..
[Encerro o post ao som de Dulce Pontes - O Primeiro Canto]


7 Comments:
Tenho que discordar de você. Não acho que amar implique em qualquer tipo de exigência, sequer metaforicamente falando. Amor tem que ser suave, tem que fazer bem para os dois. Sem obrigações, sem ter que "abrir mão de uma parte considerável dos confortos aos quais estamos acostumados" como você cita. Mas no mesmo parágrafo em que li isso, também encontrei algo com que concordar. Amar é sim estar disposto "a dividir o melhor e o pior que nós temos".
Tem uma frase ótima do Mário Quintana que descreve bem a minha forma de ver o amor:
"O amor só é lindo, quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser."
P.S.: realmente o título ficou MUITO novela mexicana do SBT! muito bom! hahaha XD
5:27 PM
Eu concordo com tudo que você falou, exceto por duas coisas:
1) A que a Jacqueline já apontou, que não é o Amor que faz exigências e sim outros sentimentos menos nobres.
2) Eu acho que você analisou tudo de uma forma prática , e eu acho que isso tira um pouquinho da magia da coisa. Mas é isso o que minha subjetividade più romântica me diz... =)
Eu vejo o Amor nos pequenos gestos da pessoas. O Amor está quando você esquece de si mesmo, e coloca outra pessoa na sua frente. E você não se importa com isso, pelo contrário, você fica feliz quando isso gera bons resultados pra outra pessoa. Seja no Amor de um casal que foi o discutido aqui ou simplesmente no Amor de um modo mais amplo.
Você disse que o Amor não correspondido gera sofrimento. Eu acho que o Amor de um casal só existe quando é correspondido. E é muito fácil confundir uma paixão com amor. Eu já fiz isso e me arrependi muito. Eu podia estar predisposta a amar, mas hoje eu já não digo que foi amor, simplesmente porque... acabou.
E como algo infinito pode acabar? Seria uma contradição. Tudo bem, pode mudar de forma e continuar em alguns casos... nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Agora quanto ao medo... nós tememos a dor. A morte às vezes não assusta, porque você pensa que sabe tudo sobre ela, o que resta é o medo da dor ao morrer. O medo de amor é o medo da consequência.
Você pensa que ama, se entrega e pode perder. E você sabe como é a perda. Você sabe o que é a dor. Mas nem sempre você sabe o que Éden, o que vem com o amor, possui pra garantir que aquela dor não seja nada perto daquilo que você tem a ganhar.
Será que o blogger deixa eu fazer esse comment imenso?rs
Bom, pra finalizar, já que a moça acima citou Mario Quintana, eu cito Fernando Pessoa em dobro.
" Tudo vale a pena , se alma não é pequena"- Fernando Pessoa, Mar Portuguez
"Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar..." Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos
Ah sim, o que eu adorei foi lembrar do New Kids ( 10 pastéis- 1 kibe) e cantar:
Na rua, na chuva, na fazendaaaaaaaaaaaa ou numa casinha de sapê... de SAPEEEEEEEEEEEEE!
8:03 PM
Olá de novo, amigos e amigas. Tudo bom ? Espero que sim.
Er... Não costumo comentar comentários, mas acho que está havendo um pequeno desvio na interpretação do que escrevi...
Em meu texto, eu coloco que "(...) se tem algo que considero como uma exigência do ato de amar é que nós estejamos DISPOSTOS a dividir o melhor e o pior que nós temos, e abrir mão de uma parte considerável dos confortos aos quais estamos acostumados.", ou seja, quero dizer que acredito ser necessário termos disposição para, se for o caso, "(...) abrir mão de uma parte considerável dos confortos (...)", não que isso é sempre necessário.
Aliás, justiça seja feita, levando em conta a história que vivi em meu último relacionamento, sobre a qual a Jak tem algum conhecimento, eu nem poderia afirmar isso como uma "exigência absoluta do Amor" pois vivi uma experiência que contradiria essa colocação por completo. ^_^
Enfim, espero ter esclarecido melhor essa minha frase e a idéia que quis transmitir por meio dela.
Beijo para as moças, abraço, tudo de bom e felicidades a todos e todas.
Até mais.
De seu amigo,
Renato F.C..
12:09 PM
Meu, só posts imensos, hein? Eu ainda acho que a melhor solução pra vc é dar um trato naquela sua colega de classe.
Abs
R.
1:57 PM
Eu tenho medo de amar. Muito. Talvez, por um lado, entre a "falta de liberdade". Mas pelo outro, porque eu já sofri de amor. E não uma vez. U_U E como eu sou rancorosa e fico remoendo aquilo dentro de mim, eu fico com aquela sensação que vai acontecer de novo. U_U
Não acho bonito, nem divertido, nem legal. Mas, é a minha realidade.
Kisses.
9:00 PM
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
8:02 PM
Porque não arriscar por amor? Receio de amar ou medo de ser amado?
É importante não confundir o sentimento amor com o sentimento da paixão, no meu entendimento amar é viver é compartilhar todos os momentos, todos mesmo, desde que esteja feliz e não se humilhe, mesmo que as vezes não seja correspondido. Mas esse amor não acontece da noite para o dia, é sentir é conhecer mais do que o físico, é mais do que dinheiro, status e ascensão profissional, é querer estar perto é sexo e emoção, o amor quando verdadeiro é forte e eterno, porque não arriscar por amor? Fomos educados com as escolhas de outras pessoas, porque não nos ajustar aos nossos sentimentos? Eu acredito que o amor existe e acredito que um dia serei sorteada. Deu certo enquanto durou, sejam três, cinco ou trinta anos, o importante é não ter medo de tomar decisões e evoluir com os nossos tropeços.
Eu cito Arnaldo Jabor:
"Gostar dói. Você muitas vezes vai ter raiva, ciúmes, ódio, frustração. Faz parte. Você namora um outro ser, um outro mundo e um outro universo. E nem sempre as coisas saem como você quer... A pior coisa é gente que tem medo de se envolver. Na vida e no amor, não temos garantias."
8:23 PM
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